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Crónicas de um utilizador frequente de transportes públicos em Portugal.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Bom diabo

Hoje apanhei o 720. O 56 não passava e eu estava ansioso por não estar de pé. Acabou por ser uma viagem diferente, uma vez que não é todos os dias que vemos um homem sem vida jazido no passeio.

Passado o choque inicial, que nos faz pensar o quão ténue é a linha que nos separa do outro lado, não pude deixar de registar todos os comentários que a visão que descrevi, suscitou nos outros passageiros do autocarro.

O que mais me fascinou, veio de uma velhinha – “ eu nasci no tempo da miséria e pobreza e as pessoas não andavam por aí a matar-se” - Hummmm duvido. Vamos ver, pelas rugas da senhora, no 25 de abril já era uma mulher feita, e provavelmente durante a 2º guerra mundial era uma senhora adolescente. Parece-me que os milhões de mortos durante este períodos, são capazes de não concordar. “Foi obra de um bom diabo” – acrescentou. Não sei o quereria dizer, mas se é assim, “arre (mau) diabo! Vá de recto Satanás”.

Houve também uma senhora mais pragmática que não hesitou em dizer que foi suicídio. Eu entendo que seja mais fácil explicar que uma pessoa se queira matar, do que perceber como um ser humano queria matar outro. Mas partindo do pressuposto, que há melhores locais para se suicidar do que um passeio de uma das ruas mais tradicionais de Lisboa, posso aferir que o homem foi assassinado. Segundo esta senhora, o homem estaria naquela posição (deitado com lençol por cima), há 2h30 (tinha-o visto quando apanhou o mesmo autocarro em outra direcção). Assim, apesar do grande aparato policial com a delimitação do perímetro de segurança, o morto estaria naquela posição há mais de duas horas. Ora isto suscita-me o seguinte comentário: das duas uma, ou acabou o giz aos inspectores da PJ, ou os CSI portugueses estavam em formação em Miami. Felizmente, a PJ anda sempre com um lençol para estas ocasiões, se não o choque podia ter sido maior.

Esta cidade tem destas coisas...estúpidas!